Escondida sob uma capa horrível que sugere uma reunião de bruxas de olhos arregalados, a boa coletânea de contos de horror “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror” (Black Sabbath / I Tre Volti de La Paura, Itália/França/EUA, 1963) capas de fitas e discos, como a gente sabe, podem tanto atrair como repelir as pessoas, especialmente quando nada se sabe sobre o conteúdo. Este é um caso em que cinéfilos podem passar batidos diante de uma obra que é bem interessante, uma representante legítima do melhor horror B italiano.
Na montagem italiana original, “O Telefone” é a primeira história. Ela se passa em um único cenário, um apartamento, onde uma prostituta começa a receber telefonemas aterrorizantes de um homem. O agressor parece estar em algum lugar de onde consegue ver o interior do apartamento, e promete matá-la. Bava faz um ótimo trabalho, caprichando no clima tenso e nos efeitos de iluminação (repare como o quarto fica mais escuro ou mais claro, de acordo com a atmosfera que o diretor deseja reproduzir, com a personagem acendendo ou apagando um abajur). Ousado para a época, o conto faz forte sugestão de homossexualismo feminino, e tem cenas de nudez parcial, algo que seria marca registrada do horror italiano produzido na década de 1970.
A segunda história é “O Wurdulak”. Considerada pelos fãs a melhor das três histórias, é também a mais longa e de produção mais cara. Nela, uma família de camponeses russos esperam o retorno do patriarca do clã, em viagem para tentar matar um vampiro. A participação de Boris Karloff é um trunfo do conto, e a atmosfera sinistra garante bons sustos. O melhor, de novo, é o trabalho de iluminação, que sugere uma sensação de crepúsculo interminável. Os cenários externos são bem decrépitos e há um momento forte, que alguns interpretam como sugestão de pedofilia, entre o avô e um neto.
O filme termina com “A Gota d’Água”, conto sobre uma enfermeira contratada para vestir uma idosa morta. A mulher rouba o anel do cadáver e depois passa a ser infernizada pelo fantasma da mulher (ou seria pela própria consciência?). Existe uma certa semelhança deste conto com o primeiro, já que há apenas dois cenários e quase toda a história é narrada sem palavras, o que dá ao episódio um senso de irrealidade meio fantasmagórico. Depois de tudo, existe ainda um bizarro mas antológico encerramento, com uma tomada irreverente feita por Boris Karloff.
Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath / I Tre Volti de La Paura, Itália/França/EUA, 1963)
Direção: Mario Bava
Elenco: Boris Karloff, Mark Damon, Jacqueline Pierreux, Michele Mercier
Duração: 92 minutos
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